Série Temas Patrulhados (9)
Intervencionismo estatal e fermentação revolucionária versus assistência particular e personalizada
Os atuais programas governamentais de assistência social são burocráticos, clientelistas, politizados, demagógicos e ineficientes, ao contrário da assistência social cristã que é personalizada, afável, caridosa e dignificante, o que, aliás, está de acordo com o autêntico espírito brasileiro
Adolpho Lindenberg
Descristianização e crise "progressista"
A descristianização de nossa sociedade, e também a crise "progressista", que há muitas décadas devasta o interior da Igreja Católica, fizeram com que a assistência social, de caráter particular e religioso, se tornasse gritantemente insuficiente para acompanhar o crescimento demográfico do País e assim minorar sofrimentos e carências nos bolsões de miséria, existentes no campo e nas cidades, gerados muito freqüentemente pelas dilacerações dos laços familiares.
Intervenção governamental e fermentação temperamental agressiva
Temos, infelizmente, neste quadro trágico, o vezo já antigo de nossos políticos de procurar resolver os problemas e crises por meio de intervenções governamentais, o que levou o Estado a assumir amplamente tarefas assistenciais como construção e gestão de creches, abrigos, asilos, hospitais, etc. E, agravando a situação, existe ainda a fermentação revolucionária de agitadores -muitas vezes, da esquerda católica"- que procuram criar um estado temperamental de inconformidade permanente e agressiva. E sempre propondo soluções que significam uma maior intervenção estatal. Com isso, paralisam iniciativas e intimidam pessoas que, de outra maneira, se disporiam a ajudar.
O Estado deve ser a última instância, não a primeira
Nesta questão, como em todas em que há relação da sociedade e do Estado, deve primar o princípio de subsidiariedade. O Estado só deve intervir, normalmente, na medida em que as pessoas e as sociedades intermediárias não forem capazes de resolver o problema. O Estado é a última instância e não a primeira. Estes critérios de agir resolveriam melhor os problemas, desenvolvendo a iniciativa, fortalecendo as personalidades e garantindo as liberdades individuais.
Calor humano versus burocracia gelada
Os atuais programas governamentais de assistência social apresentam dois inconvenientes muito salientes. De um lado, eliminam o atendimento pessoal, próximo e caritativo, das pessoas que trabalham movidas por sentimentos religiosos, ou altruísticos. E, de outro, costumam oferecer atendimento burocrático e frio, muitas vezes clientelista, politizado, demagógico e ineficiente, indiferente com os sofrimentos dos assistidos, comum em funcionários que executam tarefas motivados apenas pelo salário.
Respeito para com os carentes de que só o espírito cristão é capaz
Para nós, cristãos, socorrer na medida do possível aos desvalidos da sorte constitui um dever de solidariedade humana; mais ainda, nasce da caridade e está, aliás, de acordo com o autêntico espírito brasileiro. E esse socorro deve ser prestado preferencialmente de forma direta e pessoal, adequando-se, o máximo possível, às carências dos necessitados. Além disso, deve ser ministrado com uma solicitude e um respeito para com os carentes de que só o espírito cristão é capaz.
Auxílio moral, auxílio financeiro e permuta de bons exemplos
Assim, por exemplo, uma boa palavra ou um conselho oportuno, dirigidos a uma pessoa angustiada, podem representar um benefício muito maior que o mero auxílio financeiro. E convém lembrar que se todo doador pode edificar o pobre com seu desprendimento, este pode edificar a quem o socorre, com sua resignação e coragem de viver. Terá havido, no caso, autêntica permuta de bons exemplos.
Ato caritativo completo
O auxílio dado pessoalmente, na medida certa, com afabilidade, magnanimidade, conaturalidade com a contingência humana, comum a todos nós, ricos ou pobres, constitui, sem dúvida, o atendimento cristão por excelência. Conversa amistosa e dignificante, atenção paciente em relação às queixas, não poucas vezes exageradas, orientação de como agir em determinadas situações, ajuda na procura de emprego, são auxílios tão ou mais importantes que os meros amparos financeiros. Somados a estes últimos, constituem o ato caritativo completo, principalmente se forem acompanhados por conselhos de ordem espiritual.
Caridade, a virtude mais sublime
A caridade, num certo sentido, é a virtude mais sublime e característica da Fé católica. Outra religião não há que recomende a seus fiéis um desvelo tão extremado para com aqueles que estão passando por sofrimentos e necessidades. No mundo pagão, em que a pobreza, a escravidão e as doenças mentais eram consideradas vexatórias, quase como um castigo dos deuses, as palavras de Nosso Senhor "todas as vezes que o não fizestes a um destes mais pequeninos, a mim o não fizestes" (Mt 25, 25), caíram como raio em céu sereno.
Assistência burocrática versus assistência social cristã
A partir da difusão do Evangelho, progressivamente, os miseráveis, abandonados e carentes de toda espécie de bens, foram elevados, na consideração pública, à situação de irmãos d'Aquele que é a razão de nossas vidas e modelo de todas as virtudes. Dar e receber esmolas, tornaram-se, desde então, gestos que participam, num certo sentido, da vida divina. A assistência social cristã difere, portanto, enquanto inspiração e feitio, da assistência estatal laica, burocrática, anônima, dependente de verbas orçamentárias, como acontece usualmente em repartições públicas.
Na esmola, duas belas atitudes
À luz dessas considerações, causa espanto a posição de tantos católicos quando bradam que "o pobre não precisa de esmolas, mas de justiça". Precisa de justiça, sim, mas precisa também de esmolas. Como nós, católicos, podemos aceitar que a palavra "esmola", e com ela a realidade que expressa, tenha se transformado em algo humilhante, indigno, praticamente excluído do debate em torno da assistência social?
Esmola material e esmola moral
E não existe apenas a esmola material: há a esmola moral, o conselho, o afeto e o amparo dados por puro amor ao próximo, sem nenhuma retribuição e dirigidos tantas vezes a milionários angustiados e abatidos pelos revezes da vida. Finalmente, devemos ter muito em vista o seguinte: quem recebe uma esmola com a altivez e humildade próprias a um espírito cristão, agradecendo o doador e rezando por ele, numa certa linha, está em posição sobranceira em relação ao doador, pois com ele Nosso Senhor se identifica no Evangelho (Mt 25, 35-45).
(artigo difundido gratuitamente pela agência ConstruNews, sob sua exclusiva responsabilidade, em julho de 2004 - E-mail: nv331344 @ hotmail.com )